Reservaremos o termo de «lugar antropológico» a essa construção concreta e simbólica do espaço que, por si só, não poderia dar conta das vicissitudes e das contradições da vida social, mas à qual se referem todos aqueles a quem ela atribui um lugar, por mais humilde e modesto que seja. É exactamente porque toda a antropologia é antropologia da antropologia dos outros que, por outro lado, o lugar, o lugar antropológico, é simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para aquele que o observa.

Marc Augé, “Não- Lugares, introdução a uma antropologia da sobremodernidade”


Procura-se a inteligibilidade de um lugar, na oportunidade de recondução de um sítio, reaproximando um espaço periferizado e desvitalizado, da cidade “dinâmica”.
Os edifícios a reabilitar integram-se num quarteirão, delimitado a Sul pelo largo dos Pelames, a nascente pela rua dos Pelames, a poente pela rua do souto e a norte pela rua Mouzinho da Silveira. Os edifícios marginam a poente a ligação umbilical entre o canal urbano da Mouzinho da silveira com o promontório da Sé. Este canal, articula no largo dos Pelames as ruas do Souto e Escura, definindo uma alternativa de ligação entre a margem do rio e o promontório da Sé.
O valor patrimonial do conjunto urbano do bairro da Sé, associado à centralidade da sua localização não atenua, porém, o estigma de uma cidade ‘escondida’, com reputação de marginalidade e insegurança. A superação do paradoxo, assim se julga, implicará a ‘ruptura’ com um ‘status quo’, co-natural ao lugar ‘escondido’ e hostil. Entende-se a oportunidade desta operação, não só no quadro da renovação do património imobiliário, mas sobretudo pela introdução de um choque funcional e programático. Os estabelecimentos de novos programas associados a novos usos implicarão o arejamento social de um núcleo e a abertura de novas dinâmicas de desenvolvimento social. As propostas encontradas procuram na dialéctica entre as debilidades encontradas e as potencialidades intuídas, a definição de uma estratégia de intervenção que viabilize a dimensão da hospitalidade regeneradora e criativa.

Ficha técnica

Arquitectura
– Bernardo Pizarro Miranda
– Dina Gonçalves Ferreira
– Pedro Luz Pinto
– Miguel Magalhães
– Leonor Mota Capitão
– Amna Mesic

Arquitectura Paisagísta
– Carlos Ribas, PROAP

Fundações e Estruturas
– João Vaz – Consulmar

Águas e Esgotos
– Engimodus

Inst. Electricas
– Ruben Sobral

Imagem 3D
– BPM Arq

Porto, 2012